Apae Aracaju 55 anos: memórias dos que ajudaram a escrever essa história

28/08/2023
09:31:54

Na última sexta-feira (25), a Apae Aracaju realizou uma solenidade dos 55 anos que a instituição completa no dia 27 de agosto. Na ocasião, personalidades, empresas e principalmente, pessoas que fizeram parte da história da Apae foram homenageadas. Uma dessas pessoas foi a Fátima Santana, coordenadora do setor de Recursos Humanos da Apae. 

Fátima é colaboradora da instituição há quase 30 anos. Mais do que uma funcionária, ela é parte da família da Apae Aracaju e ficou honrada com a homenagem. “Eu fico muito feliz pelo reconhecimento. Tenho a Apae no meu coração. Tive o prazer de encontrar aqui pessoas que vou levar para o resto da vida. O trabalho social que desenvolvemos aqui é que também merece todo o reconhecimento. São anos de ações desenvolvidas para esses meninos, que todos aqui desempenham com muito carinho. Só tenho a agradecer por fazer parte dessa família.”, comenta Fátima emocionada. 

A festa teve início com a celebração de uma missa solene, realizada pelo padre Wilames Oliveira. Em seguida a programação continuou com a apresentação da banda musical do Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe e finalizou com as homenagens aos convidados. 


História de memórias e pessoas

A Apae Aracaju nasceu em 1968 e ao longo dos anos teve o seu endereço mudado três vezes. A primeira localização da sede apaena de Aracaju ficava no Estádio Lourival Batista (Batsitão), no Bairro São José, e em 1973 mudou para a Rua Arauá, no centro da cidade. Mas foi no final da década de 70 que um empresário deu início a construção do prédio que se tornaria a sede da Apae Aracaju por quase 30 anos. 

O senhor Manoel dos Santos Carvalho, Seu Manelito, era pai de uma criança com Síndrome de Down, a Fátima. Ele vivenciava na pele todas as necessidades que uma pessoa com deficiência e sua família enfrentavam devido a falta de instituições, políticas públicas e acesso a serviços de saúde voltados para Pessoas com Deficiência (PCD) nessa época. Impulsionado pelo anseio de melhorias, o empresário, que já fazia parte do movimento apaeano, decidiu ampliar a instituição para acolher mais pessoas. 

Assim, com a inauguração da Apae Aracaju do Bairro Industrial, a instituição passou a oferecer para a população serviços de: oficinas terapêuticas, fisioterapia, aulas de dança, esporte e artesanato. Além dessas atividades, por alguns anos, os assistidos puderam praticar a terapia com animais através da criação de coelhos e a agricultura, com uma pequena horta cultivada por eles. 

Iza e Gilda são as funcionárias mais antigas que permaneceram na instituição desde a sua mudança para o Bairro Industrial. Gilda foi contratada em 1981 como professora de artesanato e permanece até hoje realizando atividades de pintura, costura e dança com os assistidos. Dona Iza entrou na instituição no ano seguinte, em 1982, como auxiliar administrativa e hoje é responsável pelo setor de almoxarifado. 

Ambas as funcionárias se recordam com muita melancolia das histórias e experiências vividas na instituição. “A gente viveu muita coisa boa dentro dessa Apae. Os assistidos eram muito bem recebidos e acompanhados. Nós já  participamos de muitos eventos de esporte, eles amavam. Lembro que quando a gente ganhou um ônibus do governador da época, sempre que podia levávamos eles para atividades externas. Entrava todo mundo no ônibus, era sempre uma festa. Os assistidos iam jogar futebol e nós, professoras e funcionárias, ficávamos nas arquibancadas torcendo por eles. Até quando tinha gol contra a gente festejava.” diz Dona Iza. 

“Fico emocionada só de lembrar quanta felicidade esse lugar já trouxe para a gente. Hoje, as coisas estão diferentes, mais modernas, claro, as coisas precisam se atualizar, mas é muito bom a gente poder relembrar o que já vivenciou e saber que tudo isso também já foi importante para que as coisas pudessem ser como são hoje em dia.”, comenta Dona Gilda. 

Além das funcionárias, muitos assistidos também estão registrados nessa história desde os seus primeiros capítulos. Luciano, Bosco, Gilvan, Luíz, Gesiel, Marcleia, Wilson e Maria Ivoneide fazem parte da turma de usuários mais antigos da instituição. 

Eles cresceram com a Apae e construíram um vínculo tão forte quanto o de uma família. “Eu sinto tanta saudade dessa época. Muitos amigos que já estudaram aqui já se foram. Eu gosto muito de vim para a Apae porque aqui eu vejo os meus colegas. Passamos o dia fazendo atividade, conversando e ajudando as professoras.”, diz Luciano, assistido da instituição há quase 30 anos. 


Projetos que marcaram 

Vários projetos foram desenvolvidos pela Apae Aracaju para benefício dos usuários, mas também da população. Em 2005 foi inaugurado um projeto, em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde e com o Ministério da Saúde, o Programa de Proteção a Gestante (PPG). O projeto tinha como objetivo realizar o pré-natal das gestantes, acompanhar a gestação e prevenir possíveis doenças e deficiências ocasionadas eventualmente por elas. 

O programa virou referência em todo o estado e chegou a realizar 435.952 exames de setembro de 2005 a outubro de 2006. Segundo a atual coordenadora de assistência social da Apae Aracaju e funcionária da época, Ingrid Waleska, o PPG foi fundamental para gerar os primeiros dados sobre ISTs de Sergipe. 

“O PPG era uma das ações mais relevantes do estado voltada para a saúde da mulher e consequentemente so bebê. Nós identificamos o quadro da paciente logo no pré-natal. Então fazíamos o acompanhamento dela, do parceiro e do bebê. Isso previna a criança de nascer com alguma doença ou deficiência, além de manter a saúde da família.”, diz Ingrid.  

O PPG ficava localizado na Rua Maruim, no centro da cidade e ofertava para a população 14 tipos de exames. Dois assistidos da instituição também atuavam no projeto ajudando a embalar exames e recepcionando o público. Era uma forma de inclusão através do trabalho que fazia os usuários praticarem a independência, responsabilidade e autonomia. Em 2007 por questões burocráticas o laboratório parou de funcionar e foi fechado.  

Apae do Futuro

A gestão da Apae Aracaju vem realizando ações em busca de melhorias dos serviços já ofertados, além de novos que possam contemplar outros tipos de deficiência. Hoje, através do Centro Especializado em reabilitação II (CERII)  a Apae atende cerca de 500 usuários com serviços de: fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional, nutrição, enfermagem, ortopedia, neuropediatria e psiquiatria. 

No ano de 2023 a instituição foi contemplada com 14 emendas parlamentares para aquisição de novos equipamentos e melhorias na estrutura da instituição. Através dessas emendas também foi possível o desenvolvimento do projeto Game Terapia que une a diversão dos games com a fisioterapia e reabilitação de pessoas com deficiência física e/ou múltipla. 

“A Game Terapia é uma forma moderna e divertida de praticar a fisioterapia. Através dos jogos e do equipamento adequado a gente faz com que o paciente reproduza os movimentos indicados na tela e conclua os objetivos propostos.”, explica a fisioterapeu Whitney Cardoso, uma das responsáveis pela implantação da atividade. 

A game terapia é um recurso que vem sendo utilizado como um atrativo para os pacientes. Muitos profissionais se deparam com uma certa resistência na continuidade do tratamento fisioterapêutico que por muitas vezes é cansativo e desgastante para aquele que o realiza. Além de todos os benefícios, esse tipo de atendimento não possui contraindicações e pode ser realizado em pessoas de qualquer idade, desde que consigam realizar as ações propostas.